terça-feira, 6 de março de 2012

Que futuro para o SNS?

            Há alguns anos atrás os nossos políticos entenderam que a maneira mais eficaz de ter melhores serviços público com menos custos passava por alterar o modelo de gestão, aplicando neles os mesmos princípio da iniciativa privada, tendo como objectivo fazer face às despesas crescentes com o sector da saúde. A nível hospitalar esta alteração passaria por converter os hospitais públicos em entidades que seriam geridas como empresas, criando no governo de Durão Barroso o modelo de gestão empresarial que transformou os hospitais em Hospitais S.A., renomeados E.P.E pelo executivo de José Sócrates.
            O objectivo deste modelo era conter os custos da saúde sendo entregue a sua direcção a um Conselho de Administração com vários vogais e de remuneração incógnita, frequentemente assessorados por jovens licenciados, contratados não se sabe bem como e que deveriam encarar a gestão das unidades de saúde seguindo os mesmos princípio de administração de uma outra qualquer empresa.
            A fórmula milagrosa para conter os custos passaria por aumentar a produtividade que se conseguiria impondo um aumento do número de actos médicos e de enfermagem (sem que se criem melhores condições, pois isso acarretaria mais despesa...), diminuir os encargos com remunerações.
            Este constante “espremer” dos profissionais levou a que os melhores se fartassem do sistema e abandonassem o sector público para investir em exclusivo no privado que normalmente oferece melhores remuneração e melhores condições de trabalho.
            Não são contudo os encargos com mão-de-obra os únicos responsáveis pelo acréscimo da despesa dos hospitais.
            Factores como a complexidade tecnológica crescente dos meios de diagnóstico e tratamento - inevitavelmente dispendiosa, mas que possibilita resultados inimagináveis há poucos anos - o custo adicional do desenvolvimento de novos fármacos mais eficazes e melhor tolerados, o aumento da esperança de vida da população (com o respectivo aumento de patologias próprias dos idosos), a medicina defensiva (empolada pela agressividade da comunicação social) não parecem ser devidamente tomados em conta quando se refere o aumento dos custos dos cuidados de saúde!
            A racionalização dos encargos com o SNS impõe por um lado uma maior pressão sobre o trabalhador a troco de salários cada vez mais reduzidos, numa clara desvalorização dos actos médicos e de enfermagem, mas necessita ir mais longe, o que só será possível com uma medicina de pior qualidade, com limitação de meios diagnósticos e de tratamento.
            É curioso contudo notar que este aparente poço sem fundo de despesas desperta cada vez mais a cobiça dos grandes grupos económicos que se digladiam entre si para conseguir a gestão deste ou daquele hospital.
            Privatização! Essa é a variável que alguns iluminados dizem fazer falta na saúde, cada vez mais convertida em negócio.
            Em que medida a privatização da saúde tem beneficiado o utente? A resposta é fácil e clara - EDP, PT, Transportes, Galp, Águas e Saneamento, Banca e outras empresas privatizadas: em que beneficiaram o utente? Temos tarifas mais baixas e melhores serviços ou será justamente o contrário em alguns casos?
            Lucro! Irão os privados investir num negócio que não gere lucro, um lucro compensador dos pesados investimentos?
            Será que os milhões investidos pela Banca em sistemas de Seguros de Saúde se irão perder nos hospitais-empresa que tudo prometem dar a troco de nada mais que os impostos que agora pagamos?
Dito de um modo mais claro: Quem irá esbanjar dinheiro num seguro de saúde se o Estado der uma boa resposta às carências de cuidados de saúde das populações? Irá a Banca perder milhões com o abandono dos seguros de saúde, assim tornados desnecessários?
            Não me parece. Os hospitais-empresa serão parceiros dos grupos privados no lucro que dará o negócio da saúde.
            De onde virá esse lucro que faz brilhar os olhos de todos os que vem a medicina como um chorudo negócio? Talvez seja bom começarem a pensar que esse lucro talvez possa vir do próprio bolso e de uma menor cobertura de cuidados à população...!
            ... Ou então acreditem em milagres!

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