terça-feira, 6 de março de 2012

Portugal, um país em vias de subdesenvolvimento

         Pedro Passos Coelho parece-me ser uma pessoa com convicções fortes e determinado a seguir um rumo que ele entende ser aquele que vai retirar o país da caótica situação económica em que sem encontra, seguindo um modelo neoliberal, ou talvez ultraliberal que se inspirou na doutrina de Adam Smith do século XVIII, o qual não se mostrou capaz de resolver os problemas das economias e proporcionou uma doutrina de caracter contrário defendida por Marx no século XIX. No final do século XX o liberalismo foi substituído pelo neoliberalismo e o marxismo pela terceira via de Tony Blair.
A crise que estamos a viver resulta da saturação do endividamento promovido pela banca, suicidário, do ataque do dólar face ao euro, da falta dela uma liderança que unifique o projecto europeu em contraponto a um exacerbar dos nacionalismos.
Vivemos uma situação dramática em que precisamos que o exterior financie a nossa economia caso contrário não há dinheiro para pagar salários e pensões e para o consegui há que honrar os compromissos assumidos com a chamada “troika” no sentido de reequilibrar as contas públicas gastando menos.
A receita do FMI para Portugal é semelhante à aplicada na Grécia e também na Irlanda – se bem que a situação da Irlanda é totalmente diferente pois resulta de um problema conjuntural e não estrutural - porém, um excesso de austeridade geral uma recessão incontrolável que vai acabar por tornar impossível o pagamento aos credores nas condições negociadas.
Podemos dizer que a culpa do estado a que chegamos é de José Sócrates, mas não podemos negar que a substituição do governo socialista da Grécia por um governo tecnocrático do agrado de Berlim e Paris não está a servir para nada. A Grécia caminha a passos largos para uma bancarrota adiável, mas inevitável a qual vai levar certamente a efeitos colaterais em toda a Europa e principalmente em Portugal e restantes PIGS, não sendo de excluir uma desvalorização do Euro por falta de confiança na moeda única.
Assumidamente a estratégia de Pedro Passos Coelho para resolver os problemas estruturais de Portugal, é a via subdesenvolvimento, o empobrecimento forçado e uma protecção social excessiva que tem de ser reduzida, materializada para já num acordo de concertação social que promove o desemprego e a precariedade celebrado com o aval da UGT,. Para Passos Coelho a salvação de Portugal passa por um Estado Mínimo, por trabalho escravo, que se deve aproximar cada vez mais das condições de trabalho da China e da Índia.
          Empobrecer, mas quanto?
          O Primeiro-ministro foi claro: Custe o que Custar!
       Custe o emprego, custe a dignidade, custe a família, custe a escola, custe a protecção social, custe mesmo a vida...
          Para Passos Coelho e assessores não há limite quantificável para o que temos de empobrecer.
          Temos?
         Sim, temos! Porque os seus amigos da grande finança nada têm a temer. Quem tem que pagar a crise empobrecendo miseravelmente é o povo e a classe média que caminha para a extinção!
         Todos os dias somos confrontados com notícias que confirmam um ataque sem quartel à classe média, que corte após corte vê o seu salário reduzido de forma dramática, confrontada com o facto de não poder honrar os seus compromissos por alteração unilateral por parte do Governo de regras estabelecidas na Constituição Portuguesa. É um fenómeno recentemente tratado por Elísio Estanque, fenómeno que tende a piorar pois o governo vê na classe média a galinha dos ovos de ouro para pagar a factura da crise, classe esta que não beneficia de quaisquer apoios sociais, sobrecarregada de impostos e que se vê de repente sem direito a nada.
         Exigir sacrifícios é aceitável quando isso serve para alguma coisa, mas é uma loucura exigir sacrifícios para pedir novamente sacrifícios num ciclo de empobrecimento que certamente o vai deixar tristemente célebre na História de Portugal.
         A Europa e o mundo ocidental vivem uma crise gravíssima, de contornos inimagináveis e de desfecho trágico mas imprevisível.
         Portugal e a Europa precisam urgentemente de um Plano B, pois está mais que provado que o plano A de Austeridade, não vai funcionar, o C não sei qual é, mas sei como vai acabar o D de Desespero.
Se a miséria progredir com temo que vá progredir, o povo não vai aguentar e vai sair para a rua sem controlo para fazer justiça pelas próprias mãos. Se não se conseguir inverter a espiral de empobrecimento, fome e miséria a tempo de se evitar essa fase, a classe política que abandone o país, porque o novo 25 de Abril vai ser vermelho não de cravos, mas de sangue.
        Passos Coelho foi eleito para resolver uma grave situação de crise. Pode ser obstinado e levar as suas reformas custe o que custar, obrigar-nos a trincar a língua e chamar-nos piegas. Não pode é falhar.
Não se pode esperar maior productividade com trabalhadores desmotivados.

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